A tatuagem, marca tradicionalmente presente em sociedades pré-modernas - indígenas americanos e geral, povos centro-asiáticos, tribalistas africanos, etc. - mantêm-se forte na sociedade capitalista contemporânea. O que faz um jovem contemporâneo buscar "refúgio" neste ato primitivo (no sentido de primeiro-ancestral)?
Em países como os Estados Unidos, ela se tornou a regra, a sua ausência representa o exótico. Podemos pensar pela linha teórica de dissolução das relações sociais, a modernidade, o amor, o medo, que se tornaram líquidos. Não há mais a presença ativa do sentimento de pertencimento. As raízes que nos prendiam à alguma coisa/lugar foram brutalmente arrancadas, estirpadas, pela velocidade da (re)produção do sistema-mundo capitalista. Somos dominados por uma sociedade marcadamente burocrática de consumo dirigido, não há saída possível para a massa (autor tbm inserido neste conceito), vende-se a ilusão, ou melhor, uma proto-ilusão, de distanciamento factual possível. Por mais que a sociedade moderna, de base judaico-cristã, tenha massacrado os povos coloniais, eles de alguma forma mantêm-se vivos.
O ato de tatuar-se é, de alguma maneira, um retorno, uma 'homenagem', aos que se foram. Também, inserido neste ponto de vista, os povos que se foram, mantinham uma certa unidade cultural estrutural, tinham identidade, justamente o que se perde neste modelo globalizante de sociedade. É uma forma de buscar um identidade, cravando na própria pele, signos que de uma forma ou de outra, significam alguma coisa para o sujeito. Por outro lado, podemos encaram que este ato representa a própria essência do sistema homogeneizante. Ao marcar-se com um signo, o sujeito esta assumindo a sua própria ignorância enquanto ser coletivo e pertencente a um dado grupelho. É um retorno ao rural, onde as vacas eram marcadas com ferro e fogo, como forma de identificação do rebanho à um certo dono (exemplo aplicável comumente aos mais variados tipos de sistemas escravocratas e de dominação - vide holocausto). No caso das tatuagens, o 'dono' pode ser uma banda, um bando, uma ideologia, uma religião, ou ainda, diretamente um outro ser humano, enfim, os motivos podem ser alongados quase que praticamente ao infinito. Para o processo de identificação das causas seriam necessárias entrevistas e uma longa pesquisa bibliográfica, na busca de padrões comuns à elas.
Este ensaio, buscou apenas, muito brevemente, levantar algumas questões sobre um ato inconscientemente tão banal. Em alguns casos é sinônimo de rebeldia juvenil, ou uma irracional busca por um tempo à muito perdido.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Como ficaremos sem Saramago?
Saramago escreveu em seu blog, em 7 de abril de 2009:
“A mentalidade antiga formou-se numa grande superfície que se chamava catedral; agora forma-se noutra grande superfície que se chama centro comercial. O centro comercial não é apenas a nova igreja, a nova catedral, é também a nova universidade. O centro comercial ocupa um espaço importante na formação da mentalidade humana. Acabou-se a praça, o jardim ou a rua como espaço público e de intercâmbio. O centro comercial é o único espaço seguro e o que cria a nova mentalidade. Uma nova mentalidade temerosa de ser excluída, temerosa da expulsão do paraíso do consumo e por extensão da catedral das compras. E agora, que temos? A crise. Será que vamos voltar à praça ou à universidade? À filosofia?”
“A mentalidade antiga formou-se numa grande superfície que se chamava catedral; agora forma-se noutra grande superfície que se chama centro comercial. O centro comercial não é apenas a nova igreja, a nova catedral, é também a nova universidade. O centro comercial ocupa um espaço importante na formação da mentalidade humana. Acabou-se a praça, o jardim ou a rua como espaço público e de intercâmbio. O centro comercial é o único espaço seguro e o que cria a nova mentalidade. Uma nova mentalidade temerosa de ser excluída, temerosa da expulsão do paraíso do consumo e por extensão da catedral das compras. E agora, que temos? A crise. Será que vamos voltar à praça ou à universidade? À filosofia?”
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Retorno do que não foi
Fortes reflexões forçaram-me a continuar tentando escrever neste locvs amenvs... O que mais me anima é saber que nenhum olhar perdido adentrará pois destes cantos.
Porque o medo de ser lido? Qual haveria de ser a explicação para tal intento? Haverão segredos? Medos? Desejos? O que faz um ser humano escrever, desenvolver as habilidades que mais os distinguem dos outros animais, para ser deixado no esquecimento, no limbo profundo? Há algo de podre no reino da Dinamarca! O que seria?
Quem ousará por dentre as entranhas adentrar e de lá extrair o que mais odorifica a dignidade partida? O que hei de poder oferecer se não minha dignidade? Um incômodo terrível arrebata-me.
Não sei o que é. Por isso escrevo. Depois leio e tento distinguir. Escrevo isso racionalmente? Talvez não... Talvez sim! Talvez haja uma mescla inseparável entre a razão aglutinante e a omissão desconhecida.
Insisto na dúvida. Mal o sei escrever. Tangibilizar. O sei fazer? Espero que o raio solar adentre pois no recanto de minha morte. Tal é o sofrimento que todos os dias o aceito. Poderia ser distinto? Como de três os feitos, todos como um se portarem? Haveria a distinção dos três sendo um? O afeto que partilham os une na mesma desgraça. Um se acha espertalhão e dele se afasta. Mas não percebe o mal que cultiva. Doutros, um se resguarda, não sofre, nem prazer sente. E o último dos que vos conto, à podridão se entrega. Caminha pelo mais sórdido dos mundos. Onde nada há de ter valia, se não o gemido despertado... De uma unica mancha esbranquiçada, translúcida, muitos se fizeram. Com o rubro leito venoso se uniram e dele a paixão se completou. Nada pode ser perdido. Com a morte ou a traição, como símbolos constantes nele insistências se perduram.
Porque o medo de ser lido? Qual haveria de ser a explicação para tal intento? Haverão segredos? Medos? Desejos? O que faz um ser humano escrever, desenvolver as habilidades que mais os distinguem dos outros animais, para ser deixado no esquecimento, no limbo profundo? Há algo de podre no reino da Dinamarca! O que seria?
Quem ousará por dentre as entranhas adentrar e de lá extrair o que mais odorifica a dignidade partida? O que hei de poder oferecer se não minha dignidade? Um incômodo terrível arrebata-me.
Não sei o que é. Por isso escrevo. Depois leio e tento distinguir. Escrevo isso racionalmente? Talvez não... Talvez sim! Talvez haja uma mescla inseparável entre a razão aglutinante e a omissão desconhecida.
Insisto na dúvida. Mal o sei escrever. Tangibilizar. O sei fazer? Espero que o raio solar adentre pois no recanto de minha morte. Tal é o sofrimento que todos os dias o aceito. Poderia ser distinto? Como de três os feitos, todos como um se portarem? Haveria a distinção dos três sendo um? O afeto que partilham os une na mesma desgraça. Um se acha espertalhão e dele se afasta. Mas não percebe o mal que cultiva. Doutros, um se resguarda, não sofre, nem prazer sente. E o último dos que vos conto, à podridão se entrega. Caminha pelo mais sórdido dos mundos. Onde nada há de ter valia, se não o gemido despertado... De uma unica mancha esbranquiçada, translúcida, muitos se fizeram. Com o rubro leito venoso se uniram e dele a paixão se completou. Nada pode ser perdido. Com a morte ou a traição, como símbolos constantes nele insistências se perduram.
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