A tatuagem, marca tradicionalmente presente em sociedades pré-modernas - indígenas americanos e geral, povos centro-asiáticos, tribalistas africanos, etc. - mantêm-se forte na sociedade capitalista contemporânea. O que faz um jovem contemporâneo buscar "refúgio" neste ato primitivo (no sentido de primeiro-ancestral)?
Em países como os Estados Unidos, ela se tornou a regra, a sua ausência representa o exótico. Podemos pensar pela linha teórica de dissolução das relações sociais, a modernidade, o amor, o medo, que se tornaram líquidos. Não há mais a presença ativa do sentimento de pertencimento. As raízes que nos prendiam à alguma coisa/lugar foram brutalmente arrancadas, estirpadas, pela velocidade da (re)produção do sistema-mundo capitalista. Somos dominados por uma sociedade marcadamente burocrática de consumo dirigido, não há saída possível para a massa (autor tbm inserido neste conceito), vende-se a ilusão, ou melhor, uma proto-ilusão, de distanciamento factual possível. Por mais que a sociedade moderna, de base judaico-cristã, tenha massacrado os povos coloniais, eles de alguma forma mantêm-se vivos.
O ato de tatuar-se é, de alguma maneira, um retorno, uma 'homenagem', aos que se foram. Também, inserido neste ponto de vista, os povos que se foram, mantinham uma certa unidade cultural estrutural, tinham identidade, justamente o que se perde neste modelo globalizante de sociedade. É uma forma de buscar um identidade, cravando na própria pele, signos que de uma forma ou de outra, significam alguma coisa para o sujeito. Por outro lado, podemos encaram que este ato representa a própria essência do sistema homogeneizante. Ao marcar-se com um signo, o sujeito esta assumindo a sua própria ignorância enquanto ser coletivo e pertencente a um dado grupelho. É um retorno ao rural, onde as vacas eram marcadas com ferro e fogo, como forma de identificação do rebanho à um certo dono (exemplo aplicável comumente aos mais variados tipos de sistemas escravocratas e de dominação - vide holocausto). No caso das tatuagens, o 'dono' pode ser uma banda, um bando, uma ideologia, uma religião, ou ainda, diretamente um outro ser humano, enfim, os motivos podem ser alongados quase que praticamente ao infinito. Para o processo de identificação das causas seriam necessárias entrevistas e uma longa pesquisa bibliográfica, na busca de padrões comuns à elas.
Este ensaio, buscou apenas, muito brevemente, levantar algumas questões sobre um ato inconscientemente tão banal. Em alguns casos é sinônimo de rebeldia juvenil, ou uma irracional busca por um tempo à muito perdido.
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